quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A razão da Meia da Nazaré ser a "Mãe"

Imagens históricas retiradas do site oficial

Se a nível social, político e histórico, utiliza-se sempre a separação de "antes do 25 de Abril / depois do 25 de Abril", a nível do Atletismo popular, do Atletismo para todos, há o antes e depois do 16 de Novembro de 1975.
E o que tem esta data de tão importante? Foi o dia em que se realizou a 1ª edição da Meia-Maratona da Nazaré
Antes do 25 de Abril (lá está...) era impensável organizar as provas de estrada que se fazem hoje. Estamos a falar de se juntarem e conviverem largas centenas de pessoas, o que era receado e não permitido por causa de eventuais e "perigosíssimos" agentes desestabilizadores. As provas que se realizavam, casos do Grande Prémio de Natal ou a Estafeta Cascais-Lisboa, eram exclusivamente reservadas a atletas federados.
É então que com o 25 de Abril apareceram as denominadas "corridas à porta de casa" e foram surgindo algumas provas, entre as quais esta que foi uma verdadeira pedrada no charco e que viria a mudar para todo o sempre este fenómeno. Tal como nas restantes, o grande impulsionador foi o Professor Mário Machado, que os mais recentes atletas o reconhecem como o director das Meias das Pontes, tal como o director da óptima publicação especializada que dá pelo nome Spiridon, publicação bi-mensal que há mais de 30 anos dá poderosas dicas a quem a lê e é um verdadeiro treinador de muitos.

Nesta edição inaugural, foram 146 os atletas que se classificaram, entre as quais 3 femininas. Anacleto Pinto do Benfica foi o vencedor com 1.11,59 e Isolda Pinhel do CAP entrou para a história como a primeira mulher a ganhar uma Meia em Portugal, com o tempo de 1.42,55.
Logo na 4ª edição registou-se um record mundial feminino, quando a 12 de Novembro de 1978 Danny Justin da Bélgica retirou 6.49 ao tempo que lhe tinha dado a vitória em 1977 e bateu o máximo mundial com 1.17,48
Cada vez mais popular, esta prova transformou-se numa romaria, tendo entre 1985 e 1987 ultrapassado os 3 milhares de atletas, com o record fixado em 3.177 na edição de 1985

E como era feita a classificação na altura? Imagine-se classificar correctamente mais de 3.000 atletas sem chip e com cronometragem manual! Os atletas cortavam a meta e eram incentivados a não abrandarem e a dirigirem-se ao corredor que ia sendo aberto com uma corda que andava dum lado para o outro. Mal um corredor estava cheio, era aberto outro e todos cortavam a meta a correr sem apanharem a fila antes. Quando um corredor era escoado, logo ficava disponível para outra leva. E assim ocupava-se toda a praça.
Na meta estavam cronometristas que iam picando o cronómetro por cada atleta que cruzava a meta, e havia alturas que eram a uma média superior a 1 atleta por segundo. Quem estava a controlar a passagem nos corredores ia fazendo a lista dos dorsais dos atletas e ia sendo tudo entregue a dactilógrafos que, com as antigas máquinas de escrever, iam elaborando a classificação. E ficava tudo certinho!

Entretanto a oferta de provas e eventos começou a alastrar e o número de participantes foi descendo até se fixar na casa do milhar nos últimos 20 anos.
Impressionante é o facto de existirem muitos veteranos que têm no seu currículo 15, 20, 25 ou mais edições desta prova e continuam a somar.

Em termos masculinos, o record está em 1.02,42, tempo efectuado por Elijah Yator em 2001. Nos 2 anos seguintes, o vencedor quedou-se a 1 e 3 segundos respectivamente, sendo que estas foram as 3 edições abaixo dos 63 minutos.
Foram 30 os atletas que ficaram com o seu nome para a posteridade como vencedores desta prova, 27 com uma vitória, Stepehn Rerimoi com duas e Anacleto Pinto e José Dias com três.

O sector feminino tem o seu record fixado por Rosa Mota em 1989 com 1.10,31. Dentro dos 70 minutos, vamos encontrar outra edição, a de dois anos antes onde a mesma Rosa Mota realizou 1.10,32.
Em termos de vencedoras, a relação consta de 22 atletas, 17 das quais com uma vitória. Com duas, Danny Justin e Rita Borralho, três para Natalia Volgina, quatro de Fátima Silva e a grande recordista de vitórias, Rosa Mota, com sete!

Para consultar o historial desta prova, clicar aqui.

Historial que neste domingo vai ter mais um capítulo com a 36ª edição desta prova que os atletas de pelotão carinhosamente chamam de "Mãe". A mãe de todas as provas.
História de sucesso mas também de muitas dificuldades, especialmente no início. Ainda há pouco tempo falei com um colega que tem um familiar que fez parte da organização nos anos pioneiros e que me deu conta da série de dificuldades que a própria federação causava, numa altura em que as provas eram intituladas de piratas, em que atletas federados poderiam ser castigados por participarem nelas, tudo com o receio de perderem o controlo e pulso da modalidade, e por temerem que os atletas descurassem as pistas. Muitas e muitas viagens tiveram de fazer até Lisboa para fazer vingar a sua/nossa prova.

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