quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Como comecei

26 de Março de 2006, Mini da Ponte. A minha primeira corrida estava concluída!

Cada um de nós tem a sua história de como começou neste desporto que nos vai apaixonando mais e mais.
Esta é a minha.

Sempre gostei de Atletismo mas, como o comum dos mortais, apenas conhecia o mediático e desconhecia por completo os inúmeros eventos que são organizados semanalmente. Apenas sabia da sua existência quando via na televisão as pontes ou quando cortavam a minha rua para a corrida dos Leões de Porto Salvo.

Vibrei entusiasticamente com as façanhas dos nossos atletas, fosse nos Jogos Olímpicos, campeonatos mundiais ou europeus, mas nunca me passou pela cabeça um dia entrar em provas, muito menos ao lado de alguns desses nomes que nos davam tanta alegria e orgulho.

De vez em quando, ia num sábado de manhã até ao Jamor, percorrer, apenas a andar, uma volta ao circuito de manutenção para fazer os exercícios, e depois corria uma, às vezes duas voltas, à pista onde está agora o Centro de Alto Rendimento. E quando fazia essas duas voltas (800 metros), já achava que tinha corrido muito.
Essas manhãs sabiam-me bem quando saia mas na semana seguinte, por uma desculpa qualquer (há quem lhe chame de preguiça), não ia e passava-se mais um ou dois ou três meses até regressar a outro esporádico sábado.
Na primavera de 2005 lá comecei a ser mais regular, talvez de 15 em 15 dias. Nessa altura pesava entre os 94 e 96 quilos e tinha começado com uma série de sintomas estranhos e alarmantes, em especial por estar com 45 anos e essa idade ter os seus perigos nesses sintomas.
Fiz análises e estava tudo mal! Tinha entrado numa perigosa espiral que me teria levado não sei onde, se não tivesse ido dar uma volta junto ao mar e descoberto o Passeio Marítimo de Oeiras e umas quantas pessoas aí a correrem.
Estávamos no início de Junho de 2005 e decidi ir correr aí no dia seguinte. Assim o fiz e arranquei do metro zero junto à Praia da Torre (o passeio tem placas de 100 em 100 metros a indicar em que extensão vai) só parando de correr na praia de Oeiras, 1.800 metros depois e com o coração a querer saltar boca fora e sem conseguir falar.
Apesar de ter ficado muito dorido muscularmente, adorei a experiência e comecei a frequentá-lo de 3 em 3 dias. Era o meu escape ao stress laboral.
Na segunda vez, esforcei-me ao máximo e consegui chegar ao número redondo de 2 quilómetros e pouco depois fui mesmo até ao final do passeio (na altura acabava no Restaurante Saisa e tinha a extensão de 2.300 metros).
As placas a cada 100 metros eram a minha orientação e nem sabia que havia relógios que marcavam a distância.

Numa altura cheguei aos 2.300 e dei a volta correndo mais 100 metros, e depois comecei a aumentar o regresso. Lembro-me da grande festa que fiz quando completei 3 kms, o que já me parecia uma distância enorme para correr de seguida.
Quando cheguei aos 3.500, o meu objectivo passou a ser conseguir fazer ida e volta (4.600), o que consegui ao fim de quase 3 meses a percorrer aquele passeio.
Isso, pareceu-me o cume a que poderia chegar e era a minha meta. Umas vezes não conseguia chegar até lá mas depois comecei a fazê-lo com constância e o objectivo passou a ser quantos treinos seguidos conseguia completar a ida e volta sem nunca parar.
Estamos em Novembro e já ia em 18 vezes seguidas, a lutar para chegar às 20, quando aconteceu algo que mudou tudo.

Estava a ler o Oeiras Actual, publicação da câmara de Oeiras, quando me chamou a atenção uma reportagem sobre a Corrida do Tejo que se tinha disputado no mês anterior.
Pum pum. O coração bateu mais apressado com a ideia. E se eu entrar nesta corrida no próximo ano?
O problema é que eram, imaginem, 10 quilómetros! Mas tinha 11 meses pela frente. Se eu fosse aumentando um quilómetro para aí de mês e meio em mês e meio...
A ideia de ir participar numa corrida impulsionou-me de tal maneira que no treino seguinte ao chegar ao final do regresso na Praia da Torre, virei e ainda corri mais 400 metros perfazendo 5 exactos.
Em Dezembro cheguei aos 6 e em Janeiro aos 7. A coisa compunha-se!

Novo momento marcante. Final de Janeiro de 2006, um colega meu oferece-me um folheto para fazer a Ponte a pé. Ora que rica ideia! Eram pouco mais de 7 quilómetros, dava para tentar.
E eis que a minha experiência numa corrida é antecipada de Outubro para Março. Afinal a Corrida do Tejo ia ser a 2ª (pensava eu...)
Na semana anterior fui até à outra banda para fazer de carro o percurso e ver com o que podia contar. Eu que só estava habituado ao passeio de Oeiras.

Dias antes, um colega meu perguntou-me se eu ia à Mini ou Meia. respondi com toda a convicção "Mini! Meia não faço nem nunca farei!". Se já achava 10 quilómetros uma distância de outro mundo só ao alcance de alguns iluminados, 21 era mesmo para super-atletas.
Um ano depois, nesta mesma corrida, estava a estrear-me numa Meia...

Chegada da 2ª corrida, APAV. Ao lado, sem ainda a conhecer, está a Sandra Martins

Fui logo no primeiro dia da feira levantar o dorsal. Ao passar numa banca, oferecem-me um folheto duma corrida de apoio à APAV, a realizar 2 semanas depois. Olha que rica ideia! Mas eram quase 10... distância que nunca tinha feito. Mas inscrevi-me!

Chega o dia da Ponte e delirei com todo aquele ambiente e mar de gente. Recordo-me do momento emocionante de começar a correr e pensar "estou numa corrida!"
Foi uma experiência inesquecível e fiquei a ansiar que as duas semanas voassem para chegar a APAV.
No domingo do meio entre as duas, arrisquei-me a tentar treinar 10 quilómetros. Consegui e senti que tinha alcançado um feito sensacional. Apesar de mal me conseguir mexer mais nesse dia e seguintes.

Ao levantar o dorsal na APAV, vi um folheto da Maratona Carlos Lopes, que se ia disputar no domingo seguinte, e onde havia uma prova aberta. Mas com 11 quilómetros...
Ao chegar à meta estava tão feliz que decidi cometer a loucura de arriscar os 11 na semana seguinte.

A chegada dos 11 quilómetros, com Adamastor vencido!

Confesso que andei uma semana a dormir mal e fui por 3 vezes (!) de carro reconhecer o percurso. Estava completamente aterrorizado com a subida do viaduto!
Muito receoso, fui para a partida. Mas ao mesmo tempo muito concentrado na tarefa hercúlea que tinha pela frente, 11 quilómetros, e com o Adamastor da subida.
Receei tanto, tanto, tanto essa subida que quando a acabei pensei "Mas afinal era só isto?"

Nunca parei, tendo conseguido correr a loucura dos 11 quilómetros seguidos!
E soube através dum folheto que a 25 de Abril se ia disputar outra corrida.

E pronto! Nessa altura já estava completamente viciado. E o resto é história. História que, se tudo correr como planeado, chega à corrida número 200 na São Silvestre dos Olivais.

Ah! E a tal Corrida do Tejo onde me ia estrear afinal foi a minha corrida número 16...

A cortar a meta na minha 10ª corrida, 9 quilómetros da Lagoa de Santo André. Aqui, já de amarelo!

3 comentários:

  1. Emocionante!
    Fica-se agarrado a este texto, lê-se, e volta a ler-se vezes sem conta!
    E tenho a certeza absoluta que mais tarde, ou mais cedo, os míticos 42,195 Km vão estar nas tuas pernas ( e não vais ficar por ai..)!

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  2. Bravo! Este é o tipo de texto que deve (tem de) ser lido por todos aqueles que estão a agora a aventurar-se nessa coisa da corrida, um desporto que à partida se julga ser repleto de muito esforço, dor e sofrimento. Onde os primeiros passos são tão desmotivantes que a primeira ideia é desistir de voltar a tentar. Este é o texto que diz, por A mais B, "Eu fiz assim e consegui. E se tu fizeres assim, também conseguirás". Inspirador. E como disse o Jorge Branco, para ler e reler e reler.
    Abraço

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  3. Sem dúvida que é um texto que muitos candidatos deveriam ler. Penso que poderia ser o tal empurrão que muitas vezes nós precisamos quando estamos hesitantes… Embora tenha havido, por momentos, uma certa avidez, cujo risco foi elevado, mas próprio de alguém que prova algo muito bom e tem dificuldade em moderar-se!...

    Estava a ler este apaixonado texto e a lembrar-me, de certa forma, não da minha 1ª vez, mas sim no meu pós operatório ao joelho esquerdo (5/1993) que, face à imobilidade da perna através do gesso do tornozelo até à virilha, durante 6 longas semanas, quando tiraram o gesso e vi a perna bem mais fina que a outra, na coxa, tinha mirrado cerca de 4 cm, pensei: nunca mais na vida volto a correr como corria… depois de muita fisioterapia e, paulatinamente, treinos curtos e suaves, aos poucos fui subindo na escala, tal como o João, e quando consegui fazer o 1º treino duma hora, até as lágrimas me vieram aos olhos…

    Infelizmente, para muitos portugueses, este é um “fenómeno” difícil de entender: como é possível aquelas pessoas andarem horas a correr, ao sol, à chuva, ao vento, e terem PRAZER na corrida!!!

    Um Abraço João, bons treinos e boas provas!

    Orlando Duarte

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