quarta-feira, 21 de março de 2012

A Meia-Maratona de Lisboa e a Ponte 25 de Abril

A Meia-Maratona de Lisboa é mais conhecida pela Meia da Ponte 25 de Abril, pois é esta que marca a diferença nesta prova.

Muito demorou que as duas margens ficassem unidas por uma ponte, tendo a primeira ideia de construção sido elaborada por Miguel Pais em 1876 com um projecto que ligava Lisboa ao Montijo. Após muitas propostas ao longo dos anos, finalmente ficou decidida a sua localização e as obras iniciaram-se a 5 de Novembro de 1962, para ser inaugurada com toda a cinzenta solenidade típica da época a 6 de Agosto de 1966.

Com 70 metros de altura, chegando as torres aos 190,5 metros, 1.012,88 metros de distância do vão principal e 2.227,64 entre amarrações, esta obra tem os cabos principais com 58,60 centímetros de diâmetro e constituídos por 11.248 fios de aço cada um. Estes fios de aço estendidos, dariam qualquer coisa como 54.196 km, mais do que uma volta ao Mundo!
A grande dificuldade da construção desta ponte foi o fundo lodoso do rio e, para tal, conta com dois pilares em que o sul está enterrado a uma profundidade de 80 metros e o norte 35.
É curioso atentarmos nestas impressionantes características e recordar o ridículo que matou o primeiro projecto de corrida na Ponte. Apelidada de Ponte a Pé e organizada pelo Ginásio Clube, nasceu em 1982 e contou com 1.706 atletas classificados. Teve a 2ª edição no ano seguinte mas a 3ª e última partiu de Algés pois entretanto foi proibida a sua passagem pela ponte que lhe dava nome.
Por mais incrível que pareça numa ponte cruzada por muitos e vários veículos pesados por dia, experts consideraram que as passadas dos atletas iriam pôr em causa a estrutura da ponte!

Esta bizarra teoria foi desmentida mais tarde, após correcta e exaustiva inspecção, e a 17 de Março de 1991 teve lugar a 1ª edição da Meia-Maratona de Lisboa, evento que se tornou num ícone a nível mundial, distinguida com o grau de ouro nas provas desta distância.

Tadese no momento que bate o record mundial em 2010


Com um percurso muito favorável a boas marcas, por diversas vezes se registaram tempos que seriam records mundiais caso a prova cumprisse o necessário para a homologação. Como o desnível é superior ao metro permitido por quilómetro, foi decidido em 2008 fazer os atletas de elite partirem de Algés, permitindo a validade de record, o que veio a acontecer com o eritreu Zerzenay Tadese em 2010, numa marca que ainda hoje perdura, 58.23 e que tremeu no ano passado onde o mesmo atleta ficou a escassos 7 segundos.
 António Pinto vencedor em 1998

Nestas 21 edições já cumpridas, apenas por duas vezes se registou a vitória de atletas portugueses, uma em cada género. Em femininos Rosa Mota triunfou na edição inaugural de 1991 e em masculinos António Pinto subiu ao lugar mais alto do pódio em 1998.
Pódio feminino de 1991 com Rosa Mota 1ª, Manuela Dias 2ª e Lucília Soares 3ª

Em masculinos, e numa relação de 16 vencedores, o mais vitorioso é Martin Lel que cortou a meta em primeiro lugar por 3 vezes (2003, 2006 e 2009). Temos 11 vitórias de atletas quenianos, 2 da Eritreia e Etiópia e 1 de atletas oriundos de África do Sul, Grã-Bretanha, Marrocos, México, Portugal e Zimbabwe.
O melhor tempo foi, naturalmente, em 2010 os 58.23 de Zerzenay Tadese e o mais fraco em 1991, 1.01.44 de Paul Evans.
Martin Lel, tri-vencedor

A nível feminino, e numa relação de 13 atletas, a grande dominadora é a queniana Tegla Loroupe com a incrível soma de 6 vitórias, alcançadas em 7 anos entre 1994 e 2000, falhando apenas o ano de 1998. Aqui, o domínio queniano ainda é maior, 14 vitórias. Com 2 a Etiópia e 1 para E.U.América, Hungria, Irlanda, Portugal e Rússia.
O melhor tempo pertence a Susan Chepkemei, 1.05.44 em 2001 e o mais fraco 1.10.01 de Helena Barosci em 1992, na única vez acima dos 70 minutos.
Tegla Loroupe no pódio da sua 2ª de 6 vitórias

A nível de atletas classificados, o menor número deu-se na edição inaugural de 1991 (3.103) e o record em 2011, última até ao momento (6.330). O total de atletas nestes 21 anos é de 85.175 na Meia-Maratona.

Muitos atletas que engrossam hoje o pelotão das diversas provas que pelo país se disputam, iniciaram-se nas lides na Mini-Maratona desta prova. Mini-Maratona cujos números chegam actualmente às 3 dezenas de milhar.
Não sendo possível contabilizar o número exacto de participantes na Mini por não existir controlo de chegada, apresenta-se de seguida o número de atletas na Meia-Maratona ano a ano e o total de inscritos.
De registar que o número total de inscritos já ultrapassou o meio milhão (501.888)!



Classificados
Total
Ano
Meia-Maratona
Inscritos
1991
3.103
3.973
1992
3.904
5.314
1993
4.261
5.673
1994
4.187
7.848
1995
3.568
12.445
1996
3.357
13.735
1997
3.560
14.745
1998
3.500
19.648
1999
3.666
23.314
2000
3.768
24.641
2001
3.292
24.781
2002
3.168
31.114
2003
3.354
32.720
2004
3.514
34.514
2005
3.943
34.552
2006
4.198
35.001
2007
4.749
36.714
2008
4.774
33.875
2009
5.504
35.783
2010
5.475
35.812
2011
6.330
35.686
Total
85.175
501.888


Domingo, a história vai continuar com a edição número 22



3 comentários:

  1. Gostei, João! E fiz as três provas do GCP. Eram os primórdios, com o sr. Matias (pai do Prof. António Matias, do Terras de Aventura) a andar no ar, numa das edições, por causa dos velhos talões de controlo. Se ainda há atletas que não se sabem comportar nesse tempo era bem pior... Eu queria lá estar este ano(agora só minis...) mas a saúde não me deixa. Se melhorar ainda vou à Feira dar um abraço a alguns Amigos. Fica para o ano! Abração!

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  2. Bom, a seca é muito severa em Portugal, mas assim como assim, também não será por mais um dia que haverá mais degraça. Isto paar dizer qeu só espero é que no Domingo o dia esteja fantástico para a prática da corrida, sobretudo porque eu vou enfrentar essa aventura :) Sinceramente ainda não meti na cabeça que vou ter de acordar às 3 da manhã (por causa da mudança da hora) e que vou andar no meio de 37.000 corredores.
    Se o João for também enfrentar essa aventura, ficam os meus votos de uma excelente prova.
    Abraço.

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  3. Mais uma excelente peça do João Lima que me deu prazer em ler. Todavia, para que a questão da interrupção da prova “Ponte a Pé” seja um pouco melhor esclarecida devo dizer o seguinte: O Ginásio Clube Português e a tão bonita e auspiciosa corrida da “Ponte a Pé” vieram a ser vítimas, não de experts da engenharia, mas sim de burros teimosos e fanáticos políticos.

    Porquê? Porque no ano da 3ª edição (1984) dessa prova, a Associação 25 de Abril teve a ideia de integrar nas comemorações do 25 de Abril, uma meia maratona que ligasse dois locais históricos na revolução de 1974: Trafaria e a Praça do comércio. E aqui é que bate o ponto. Os grandes defensores da democracia e ditos socialistas de então, é que inventaram essa “istória” da segurança para impedir (e conseguiram) tal iniciativa. Todavia, a prova realizou-se na mesma, mas não atravessou a ponte, foi de Almada para a Trafaria (prova que não participei).

    Recordar que esta e outras situações vêm na sequência de anos políticos conturbados com a queda da AD. As medidas de austeridade em 1983 (não foi só o Passos Coelho que teve a ideia de ir buscar dinheiro aos mais fracos, esta ideia já é muito antiga, es consequentes lutas dos trabalhadores etc etc. Então a numenklatura já via movimentos comunistas por tudo que era sítio…

    A prova provada, é que em 1991, então, os verdadeiros engenheiros construtores da ponte não viram qualquer inconveniente em tal iniciativa. Depois de duas passagens com cerca de dois mil atletas antes dessa decisão, já lá vão mais vinte passagens com mais de trinta e cinco mil a bater pé na ponte e, ela, lá está linda e formosa como sempre!

    Um Abraço!

    Orlando Duarte

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